5/ Ervas na alquimia

herbsalchemy

O elixir da juventude – Outros frutos – O sangue de Prometeu – Palingenésia – Geração espontânea

5/ Ervas na alquimia

Acredita-se que as origens da alquimia se perdem no próprio passado do homem. Seus três principais objetivos eram: (I) produzir ouro a partir de outros metais, (II) descobrir o elixir da vida, e (III) a arte de dar vida a coisas inanimadas.

Antes do advento dos laboratórios de alquimia, contudo, sabe-se de manuscritos babilônicos preservados através dos séculos, dos quais o mais antigo data do segundo milênio a.C. Trata-se da epopéia de Gilgamesh, que após a morte de seu amigo Enkidu, lança-se a uma jornada longa e difícil em busca da erva da imortalidade.

Após superar enormes dificuldades, Gilgamesh, chega, por acaso, ao paraíso de Ut-Napishtim, o Noé babilônio, a quem, depois do dilúvio, os deuses concederam a imortalidade. Foi dito a Gilgamesh, entretanto, que é impossível a um homem obter a imortalidade através de coisas terrestres, mas foi-lhe permitido compartilhar de um grande segredo, segundo o qual, nas profundezas oceânicas, em determinado lugar, encontrava-se uma planta espinhosa, e qualquer pessoa por mais idosa que fosse recuperaria sua juventude ao comê-la.

A custa de muitas dificuldades Gilgamesh obtém a planta e retoma o caminho de casa. Durante o trajeto, pára num riacho a fim de se banhar, e deposita a planta no chão. Ao sair da água, a única coisa que pode fazer é contemplar pateticamente uma serpente furtiva deiaparecer por entre as folhagens levando consigo a planta que havia lhe custado tanto sacrifício.

O elixir da juventude

Enquanto hindus e budistas tentavam, a seu modo, deter o processo degenerativo através de práticas iogues, cuja ação se faz sentir sobre o sistema neurovegetativo do homem, já os taumaturgos da Idade Média, para a mesma finalidade, utilizavam-se de ervas, sendo estas, porém, usadas de forma complementar e os ingredientes principais de tais receitas são desconhecidos.

A idéia sobre a existência de uma única substância capaz de curar todos os males era, entretanto, predominante na Idade Média. Tal substância era conhecida como “panaceia”. No clássico da literatura árabe As Mil e Uma Noites, há uma clara alusão à maçã de Samarcanda, considerada capaz de curar todos os distúrbios psico-fisiológicos do homem. Isso talvez seja fundamentado na existência de certos frutos com propriedades medicinais, conhecidos em eras primitivas.

Outros frutos

Além da maçã, já nossa conhecida, existem outros frutos semelhantes, com propriedades medicinais. Algumas frutas das Anonáceas são comestíveis, como a graviola e a fruta-do-conde, de sabor adocicado, e nativas das regiões tropicais da América.

O tomate, o jambo-rosa e o abiu são comestíveis.

O fruto da mandrágora tem propriedades tóxicas enquanto o ananás, ou abacaxi (Ananas), ajuda na digestão de proteínas.

O estramônio (Datura) é uma planta da família das Solanáceas, com propriedades tóxicas e medicinais, mais conhecido como figueira-brava, cujo fruto é espinhoso e usado clinicamente em doses mínimas.

O sangue de Prometeu

Uma outra panaceia considerada também como elixir da juventude, era o Unguento de Prometeu, preparado com uma erva na qual, diziam os antigos, caíra sangue de Prometeu. Na mitologia, a bruxa Medeia fez com que seu amante Jasão bebesse um pouco da mesma a fim de evitar queimaduras e ferimentos.

Na obra O Pirata, de Sir Walter Scott, há uma passagem que menciona a existência de uma certa alga comestível de Guiodina, capaz de curar todas as doenças, exceto a peste negra.

Na China o ginseng, uma espécie de Aralia, era reputado como uma panaceia de grande poder medicinal. O “pé-de-elefante”, da espécie Hydrocotyle, da família das cenouras, é também outra planta considerada como uma panacéia. Nos anos trinta, uma reportagem jornalística citava o caso de um chinês que, fazendo uso desta erva, teria vivido mais de 200 anos.

Palingenésia

Certos escritores de meados do século XVII, afirmavam conhecer uma substância peculiar, que infelizmente não podemos agora identificar, a qual, aparentemente, teria a propriedade de ressuscitar uma planta a partir de suas cinzas.

Queimada determinada planta, suas cinzas eram reunidas cuidadosamente e submetidas a um tipo específico de tratamento, com substância especial. A substância resultante, um pó, apresentava coloração azulada. Este era colocado em recipiente adequado e aquecido suavemente.

Sob a ação do calor, o pó, segundo tais escritores, assumia a forma da planta, como se fosse uma aura, ou emanação fantasmagórica.

Quando a poção esfriava, as emanações luminosas desapareciam, mas poderiam ser novamente produzidas, através de novo aquecimento.

Há, entretanto, registros de experiências semelhantes feitas com animais e até mesmo com seres humanos (1) , devido à permanência da estrutura do ácido nucléico, mesmo nas cinzas.

Geração espontânea

Os antigos acreditavam que plantas e animais, além de nascerem de outras plantas e animais, através de sementes, ovos e outras formas, podiam também surgir de substâncias não-vivas.

Até mesmo o grande Aristóteles, tão preciso em suas observações com respeito às coisas vivas, julgava que vertebrados, assim como as enguias, sapos e serpentes, podiam nascer da lama.

O ponto de vista atual (2) , que provou serem todas as coisas vivas (inclusive os microrganismos) provenientes de outros organismos vivos da mesma espécie, ou de espécie similar, só foi estabelecido definitivamente, com bases científicas, após o trabalho de Louis Pasteur (1822-1895). Não é de se estranhar, portanto, que os alquimistas achassem possível criar coisas vivas, inclusive seres humanos (3), de maneira artificial.

1) Para maiores detalhes, leia Enciclopédia do Ocultismo, de Lewis Spence, Londres, 1920, art. “Paligenésia”.
2) Para maiores esclarecimentos sobre essa controvérsia leia, de W. B. Crow,  Geração Espontânea: A Pesquisa, 1933, ou, do mesmo autor, Sinopse de Biologia, Bristol, 1960, e 2 ed., 1964, pág. 2.
3) Notas explicativas podem ser encontradas sobre o assunto em História da Magia, Feitiçaria e Ocultismo, de W. B. Crow, Londres, 1968, pág. 209.

Fonte: Crow, W. B. Propriedades Ocultas das Ervas & Plantas; seu uso mágico e simbolismo astrológico, o ritual das plantas e suas poções mágicas. Tradução: Lindbergh Caldas de Oliveira e Helena Avramopoulos Hestermann. Hemus Editora Limitada: São Paulo, 1982, 70 pp.

Quaisquer perguntas somente serão respondidas pelo e-mail nemetonbeleni@gmail.com ou pelo fórum Nemeton Beleni.

 

Deixe um comentário